O Brasil possui um enorme potencial para a produção de combustíveis verdes, como o biodiesel e o etanol. Esses biocombustíveis colocam a frota nacional de veículos para rodar a um custo ambiental menor, mas nós revendedores de combustíveis estamos vendo que nem tudo são flores.
Desde o ano passado recebo reclamações de revendedores de todo o país, com problemas em suas bombas de combustíveis, com relatos de falhas na sucção decorrentes de utilização de combustíveis que, em sua composição, podem conter material orgânico (de origem vegetal e animal), e em alguns casos, problemas com diesel de origem mineral. Forma-se uma borra nos blocos medidores, especialmente nas engrenagens, onde se acumulam estes resíduos, provocando falha ou a parada do sistema de sucção.
Alguns fabricantes dessas unidades bombeadoras inclusive disponibilizaram um relatório técnico desse problema e dicas de manutenção preventiva, onde o revendedor pode, por meios próprios, tentar diminuir futuros prejuízos.
Orientam as seguintes medidas:
- Inspecionar e substituir periodicamente os elementos filtrantes do Filtro Prensa. (Nos meus postos troco os elementos filtrantes a cada 90m3 vendidos).
- Caso as bombas apresentem lentidão, sugerem que o equipamento fique fora de operação e seja solicitada a visita técnica de uma equipe especializada para manutenção da bomba de combustível.
- Em caráter preventivo, verificar os componentes das bombas que mais são afetados, sendo:
- Rotor e engrenagem louca da unidade bombeadora.
- Filtro na entrada da unidade bombeadora.
- Válvulas de retenção e alívio (localizadas na parte superior do Bloco Medidor).
- Válvulas solenoides.
- Discos magnéticos e Válvulas distribuidoras (itens internos do Bloco Medidor).
Obs.: Cabe ressaltar acerca da vida útil dos componentes da bomba, pois esse funcionamento de forma irregular, levando em consideração frequência do problema relatado, poderá reduzir essa expectativa de vida e causar danos que levem à substituição por peças novas.
Ficou evidenciado que a causa do travamento das bombas está relacionada à redução excessiva da folga entre seus componentes, gerada pela impregnação de resíduos em suas superfícies. Portanto o Diesel é o causador do travamento das unidades bombeadoras e também da posterior queima de motores por sobrecarga.
Conheço redes de mais de 30 postos que em 1 ano tiveram problemas em 35 blocos medidores, mais de 1 por posto, mesmo realizando mensalmente manutenções preventivas. Vale lembrar que cada bloco medidor novo hoje chega a custar mais de R$5.000,00.
Mas por que isso ocorre? Por que com o aumento percentual do Biodiesel, tivemos que nos acostumar com esses problemas em nossos equipamentos?
Assim como ocorre com o óleo diesel, bactérias no biodiesel também podem se fazer presentes, mas com um agravante. Como o biodiesel possui menos enxofre em sua composição (o que é bom para o meio ambiente), o surgimento de água é maior, o que favorece o aparecimento de bactérias.
Vale destacar que a contaminação por bactérias é extremamente danosa, caso não eliminada. As bactérias no biodiesel são causadas pela presença de água no combustível. A água contribui para a formação da contaminação microbiana. É importante destacar que uma colônia de bactérias pode dobrar de tamanho em períodos curtos, como de 20 a 30 minutos.
A presença de água no biodiesel ocorre principalmente por causa da condensação, isso costuma ocorrer através do ar que entra no tanque. As variações de temperatura fazem que com que ocorra a condensação da água.
Mas isso pode ser controlado. Como a água é a causadora do surgimento de bactérias no biodiesel, o trabalho precisa ser focado justamente na redução da presença do líquido.
O pior de tudo, na minha opinião, é que parece que nós revendedores estamos nessa luta sozinhos. As distribuidoras não aparecem em público com alguma explicação, os fabricantes das bombas de combustíveis dizem que o problema é do combustível e apresenta relatórios, porém isentando-se de responsabilidades pecuniárias. Eu, pessoalmente conversei com Usinas de Biodiesel e eles dizem que nem sequer sabiam desses problemas, a Brasilcom também diz desconhecer isso.
Sinto falta de cartilhas de manutenções e boas práticas para minimizar esses problemas, a culpa então é do revendedor que não está retirando a água do diesel? Mas apelar para quem mais? Existem outras orientações que devemos seguir?
Alguns sindicatos até chegaram a enviar um ofício à ANP, mas isso foi em 2019 e depois não se falou, também não vi nenhuma cartilha e nem um debate entre todas as partes da cadeia de combustíveis no sentido de ajudar os revendedores de verdade.
Além de dizer que o produto esta “dentro das especificações”, qual a posição da ANP sobre o tema? É preciso destacar que o volume da adição do Biodiesel, aprovado pela ANP, é hoje 12%, mas em 2023 será de 15% no diesel vendido ao consumidor final.
E o revendedor? Vai continuar pagando essa conta sozinho? Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém orienta, ninguém ajuda e o prejuízo chega. O revendedor busca o culpado mas ninguém assume nada e ele paga a conta, sempre sobra para ele.
O Biodiesel está começando a ganhar um exército de detratores, os próprios revendedores, que antes eram aliados, hoje contabilizam os prejuízos. Vale lembrar que grande parte das falhas dos equipamentos estão concentradas nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, as duas regiões juntas já representam cerca de 65% dos problemas.
Vamos debater o assunto, seria interessante se outras partes tivessem interesse em participar, como as distribuidoras e usinas, mas disseram desconhecer o problema. Na verdade, creio a cada dia que desconhecem de verdade a rotina do revendedor e suas dificuldades.