Um movimento relativamente silencioso, se avaliado pelas cifras milionárias envolvidas, está acontecendo entre as maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil: a “reentrada” no mercado de conveniência. E, desta vez, em parceria com grandes sócios, busca retirar a “exclusividade” dos postos, levando a conveniência para maior proximidade do consumidor, incentivando lojas “fora de postos de combustíveis”.
Shell Select e OXXO
Um exemplo em andamento é a união das marcas Shell Select e da OXXO que deu origem ao “Grupo Nós”, que nasce com mais de mil unidades pelo Brasil da Shell Select e mais de 18 mil lojas OXXO de proximidade espalhadas pela América Latina.
A OXXO em 2.017 foi eleita pela Interbrand a marca de varejo mais valiosa no México. As duas marcas serão inicialmente mantidas. Lembrando que por trás desta operação estão a Raizen e a Femsa.
Petrobras e Lojas Americanas
Já a Petrobras e as Lojas Americanas anunciaram a criação de uma joint venture reunindo as operações da BR Mania e da rede Local, hoje operada pela Americanas. Os nomes das duas marcas serão mantidos. Para se ter uma ideia do tamanho deste mercado, esta transação foi avaliada em R$ 995 milhões. A nova empresa será 50% BR e 50% Americanas.
Ipiranga e suas lojas AM/PM
A Ipiranga fez um movimento contrário nos últimos meses, fechando mais de 500 lojas AM/PM. A explicação divulgada pela mesma para este movimento foi de uma busca por maior rentabilidade e o impacto da pandemia que obrigou a empresa a mudar a operação, testando novos modelos de lojas.
De 2.345 lojas AM/PM em meados de 2020, existem atualmente 1.778, sendo que 44 delas começaram a operar nesse novo conceito, localizadas fora de postos. Itens de “food service”, como artigos de padaria e produtos que podem ser consumidos na própria loja, ganham mais peso. Há destaque maior para a área de cafés, salgados e cervejas – bebida com consumo relevante à noite. Um dos objetivos é a melhora da rentabilidade da operação.
Ficou claro durante a pandemia que houve uma grande expansão dos aplicativos dos minimercados e dos mercados e que a loja de conveniência tradicional do jeito que foi criada está perdendo a atratividade, e realmente precisa ter novas propostas.
O futuro das lojas de conveniência nos Postos
A instalação de lojas “autônomas”, como a Omnibox, Zaitt, entre outras, em condomínios residenciais e comerciais, alguns postos e indústrias, além de competir com as lojas tradicionais, aparece com a proposta de autonomia ou self service completo, que reduz custos ao não envolver mão de obra de atendimento ou caixa.
Tudo isto seria apenas um mais um movimento de competição e disrupção para as lojas de conveniência e comércio nos postos revendedores, não fosse o patrimônio maior que as distribuidoras acumularam com seus programas de “fidelidade”: as informações dos atuais clientes dos postos, que pode ser o grande diferencial ao instalar a próxima loja própria vizinha ao posto.
Imaginem uma loja da OXXO ou da Local próxima ao seu Posto e já nascendo com acesso ao cadastro e hábitos de consumo dos seus clientes?
Mais uma vez se faz necessário repensar uma série de pontos para o futuro do tradicional Posto revendedor, como:
- Contratos com as distribuidoras que garantam prática de preços “competitivos” na área de influência;
- Propriedade das informações adquiridas (momento ideal com a nova Lei de Proteção de Dados);
- O velho antigo e novo self service nas bombas;
- Os postos multi bandeiras que permitem aos revendedores combinar e propiciar liberdade ao revendedor de mesclar novas parcerias competitivas de A ou B;
- A liberdade de compra direta de usinas ou breve de alguma refinaria privatizada que se interesse por este varejo.
Enquanto isso, recomendo aos postos que não possuem lojas ou fecharam por falta de rentabilidade que repaginem a conveniência pensando no retorno de “itens mais convenientes” para a ilha de bombas. Muitos não se lembram, mas os cigarros, os refrigerantes e ou bebidas estavam “a mão” nas ilhas de bombas. É interessante pensar este “retorno para as ilhas” com a possibilidade de uso das máquinas tecnológicas de self service.
Além disso, o revendedor tem que aprender a identificar e ter um olhar singular assumindo a existência de um novo e muito amado “público consumidor” crescente que são os pets.
As lojas de proximidade, propostas pelas grandes distribuidoras, só perderiam “proximidade” se o revendedor tornar o tempo e o ato do abastecimento num momento conveniente, ou seja, tudo à mão.