A Petrobras é uma empresa privada ou estatal? Nem uma, nem outra. Na verdade, a Petrobras é uma empresa de capital misto. Ou seja, é uma empresa privada, que possui ações negociadas na bolsa de valores, as quais, o governo federal, representando o estado brasileiro, possui a maioria das ações e, consequentemente, o controle acionário. Em resumo, é uma empresa privada, usada politicamente pelos governos para fins sociais, que explora a extração e refino do petróleo no Brasil de forma quase única e isso, por si só, já tem grande impacto no preço dos combustíveis.
Portanto, como é possível privatizar uma empresa que já é privada, como declarou o presidente recentemente? Não pode! O governo está, a cada dia, tentando viabilizar ações para poder evitar uma intervenção na Petrobras com a finalidade de não mexer com o mercado de ações. Tenta baixar o preço acusando os estados, incentiva venda direta de etanol, dentre outros, o que só demonstra pouco conhecimento do setor ou despreparo para lidar com essa situação.
O mercado livre é o ideal para criar, manter e incentivar uma concorrência e esta é fundamental para se ter um mercado sustentável e o mais próximo daquilo que é justo para o consumidor. O problema é que esse debate deveria ter sido feito nos momentos de baixa, quando o petróleo estava baixo, pois assim teria tempo para iniciar uma transição do setor, que hoje é amplamente monopolizado, para a entrada de outras empresas que sustentariam um modelo de mercado mais competitivo. Vender as ações da Petrobras não garantem isso, pelo contrário. Nesse momento de alta das commodities, poderia ser um grande desastre essa abertura, pois poderia impulsionar o controle do mercado monopolista e prejudicar a entrada de novos players que pudessem competir de forma satisfatória.
Entender esses aspectos é fundamental para colocar um plano de transição que comporte essa passagem dando espaço para outras empresas se interessarem pelo mercado brasileiro e, assim, transformá-lo em um mercado maduro em nível concorrencial. O governo parece não entender isso e está longe dessa linha de pensamento.
O consumidor não enxerga valor (consumo secundário)
Mas por que os consumidores, caminhoneiros e revendedores de combustíveis preferem uma intervenção do governo? Simples. O consumidor não enxerga valor na compra de combustíveis, porque seu consumo é secundário, ou seja, faz porque é obrigado. Já o caminhoneiro não está preocupado com a economia, pois a maior reclamação dele é que o baixo crescimento do país diminui a oferta de fretes e, assim, a sua margem cai. Quando a Petrobras aumenta, eles não conseguem repassar os valores dos fretes, pois seus custos aumentam drasticamente.
E o Revendedor, por que ele quer essa interferência? Outra resposta simples. Por estar na ponta da cadeia, frente a frente com o consumidor e recebendo a pancada dos aumentos repassados. A prova é que os aumentos dados pela Petrobras nos combustíveis, não são repassados em sua totalidade para o consumidor, gerando um déficit de margem e pondo em xeque a garantia de sucesso do negócio da revenda.
Outros produtos têm influência direta nos preços dos combustíveis, como etanol anidro, que é acrescido em 27% dentro da gasolina e o biodiesel, que tem a composição entre 10% e 13%, a depender do momento. Fretes, logística, armazenagem, dissídios coletivos e o custo da energia, são outros fatores que impactam diretamente na margem do posto de combustíveis, esticando ainda mais a corda no pescoço do revendedor. E não para por aí… Tem as licenças, depreciação, manutenção, impostos (como o de renda, sobre a folha de pagamentos).
Se o consumidor, que não enxerga valor a ponto de não aceitar os aumentos, os caminhoneiros, que detêm uma parcela perto de 70% do principal modal de transporte interno, e os revendedores preferem o controle estatal, por que não é feito? Só é possível pensar em uma justificativa: não existe um plano para o setor.
Desde as primeiras crises, medidas paliativas vêm sendo tomadas. A intenção é mudar o foco, sem que qualquer ente do poder executivo assuma a dianteira das negociações ou das ações. O mercado está surfando na onda de “quem gritar mais alto, leva”.
O que pode ser feito para diminuir o preço dos combustíveis?
Parece mentira, mas não existe uma ou duas medidas que vão resolver o problema. É preciso planejar e iniciar a execução de uma série de ações para preparar o mercado para uma situação de concorrência. O modelo de extração, refino, armazenagem e distribuição no Brasil não foi pensado, feito ou executado para se ter concorrência. O modelo atual é para uma empresa extrair e refinar, entregando nos mais diversos polos, a um preço equiparado. O mercado de distribuição é outro que está um pouco distante do que se entende por concorrência, pois três empresas detêm quase a totalidade do mercado, restando para outras mais de 200 distribuidoras uma pequena parcela para competir.
A competição do mercado ficou para a revenda de combustíveis. Quase 42.000 postos de combustíveis concorrendo diretamente podem salvar o mercado, é isso mesmo? Toda uma cadeia voltada para o monopólio e a concorrência fica por responsabilidade do último elo? Isso deixa claro que falta planejamento!
O governo precisa decidir qual modelo é mais interessante para diminuir os impactos dessas altas de petróleo. E dentro desse planejamento, executar as ações que possam promover a concorrência entre as refinarias. O que seria mais viável, é a construção de dutos ligando as refinarias a pelo menos três estados diferentes, aumentando, assim, o poder de entrega de produtos de forma mais barata, incentivando a concorrência. Além disso, deveria aumentar o parque de armazenagem, o que incentivaria a construção de novos terminais para auxiliar a importação de produtos, quando estes estiverem em melhores condições e para aumentar a oferta.
Isso não é tudo, mas seria um começo importante. Para mais informações e aprofundar no assunto, convido o leitor a conhecer o CANAL DO ERREJOTA no Youtube e no Instagram @canaldoerrejota para explorar este e outros temas relacionados a logística, comportamento e consumo.
Roberto James
Especialista em comportamento do consumidor
CANAL DO ERREJOTA