A recente notícia de um ataque homofóbico sofrido pelo cliente de um posto de combustíveis, de autoria do proprietário do estabelecimento, em Criciúma-SC, no último dia 23 de março, além de lançar uma mancha que envergonha todo o segmento, encontra-se na contramão de qualquer negócio que se queira economicamente rentável.
Conservadorismos à parte, nunca foi tão verdadeiro dizer que qualquer atentado ao respeito devido à comunidade LGBTQIA+, além de um absurdo em si mesmo, por violar a dignidade de uma pessoa, também deve ser tido como um ato antieconômico por excelência.
A questão vai bem mais além do âmbito do “politicamente correto”. Está posta em dados, há pelo menos um ano, desde a publicação do estudo Rainbow Homes, realizado pelo Instituto de Dados e Análise de Audiência Nielsen IQ. Executado em abril de 2022, o estudo procurou dimensionar a amplitude do mercado consumidor LGBTQIA+ no Brasil.
Quanto movimenta a comunidade LGBTQIA+?
Os resultados são impressionantes: o consumo dessa comunidade no Brasil gerou R$ 10,9 bilhões em 2022. Ainda segundo o estudo, as “famílias arco-íris”, assim denominados os grupos familiares formados por pelo menos um membro da comunidade, são responsáveis por 5,5% do total do consumo no país. O gasto das famílias arco-íris é, no Brasil, 14% superior, em média, àquele realizado pelos grupos familiares ditos “tradicionais”.
De acordo com a Associação Internacional Out Of Leadership, o consumo dos membros da comunidade LGBTQIA+ já é responsável, no Brasil, por 7% do PIB.
A explicação não é tão difícil. Desde os anos 1990, sabe-se que o poder aquisitivo dos membros dessa comunidade é significativamente maior que aquele observado entre outros grupos da população brasileira. Entre esses nichos de consumo está, obviamente, o dos automóveis.
Por óbvio, não espanta que a clientela dos postos, tanto sob o ponto de vista quantitativo (o tanque cheio) quanto qualitativo (a gasolina de alta octanagem, o óleo lubrificante de melhor desempenho), tenha na comunidade LGBTQIA+ uma clientela peculiarmente significativa.
Se os argumentos não falam por si, voltemos aos números. Ainda de acordo com o estudo do Nielsen IQ, 30% dos membros da comunidade afirmam estar dispostos a gastar mais e com maior frequência em estabelecimentos publicamente comprometidos com políticas de incentivo à tolerância e ao respeito à identidade de gênero.
Uma questão que vai muito além do potencial econômico
Apesar dos argumentos que se debruçam sobre o contexto econômico portarem apelo junto aos empreendedores e colaboradores do setor de revenda, eles apenas servem para atestar o caráter disparatado e de enorme absurdo das práticas homofóbicas e outros tipos de preconceito. O livre direito ao respeito pelas identidades de gênero e orientações sexuais é atributo da espécie humana que deve se impor por si só.
Por razões econômicas, mas, acima de tudo, humanitárias, é preciso que não só colaboradores, do frentista ao gerente da revenda, mas principalmente os proprietários busquem treinamento, práticas educacionais e, se necessário, apoio de profissionais da área de psicologia para a promoção de uma verdadeira cultura de respeito e aceitação. Fala-se aqui em cultura do respeito e não da tolerância por uma razão óbvia: alguém meramente tolerado só está protegido da agressividade recôndita de quem tolera por razões externas ao agressor.
Por dentro, ele continua o mesmo. Uma verdadeira mudança só vai ocorrer quando a prática sociocultural se dirigir no sentido de uma verdadeira aceitação: daquelas posturas em que o outro é visto a partir de suas qualidades e defeitos, mas como pessoa.