Não resta dúvida de que o assunto do momento é o conflito entre Israel e o grupo Hamas. Não obstante o aspecto mais dramático e aquele cujas repercussões mais profundamente impactam o espírito e as mentes ao redor do planeta, os possíveis impactos econômicos possivelmente decorrentes da guerra também já movimentam as expectativas. Entre elas, as possíveis oscilações no preço do petróleo é, senão a principal, uma das mais apelativas em termos das consequências para o desempenho das atividades produtivas em todo o mundo.
E os motivos para a geração das expectativas e apreensões é tudo menos descabido. A história o demonstra com a exatidão de uma fórmula matemática. Desde meados do século 20, todos os choques internacionais do preço do petróleo se deram em decorrência do complexo, tumultuado e difícil histórico de incertezas que marcam o Oriente Médio que, por ironia, é a principal região produtora da mais estratégica e importante commodity do planeta, o petróleo.
Assim aconteceu no primeiro e segundo choques internacionais do petróleo, em 1973 e 1979; no caso Irã-Contras, por ocasião da guerra entre Irã e Iraque, já na década de 1980, período no qual também foi assassinada a liderança progressista egípcia, Anwar Al Saddat; também foi assim na década de 1990, com a invasão do Kuwait pelo Iraque; no assassinato do primeiro ministro israelense Yitzhak Rabin e os vários momentos de tensão entre, de um lado, a potência militar israelense e, de outro, os atentados de grupos como o Hamas, a Al-Qaeda e o libanês Hezbollah.
No que diz respeito ao futuro do mercado internacional de petróleo, o cenário é tanto o de preocupações quanto de potencial quadro de fatores de estabilidade. Entre os primeiros está, como foi dito, o automatismo entre a emergência de conflitos armados na região e o uso do petróleo como arma geopolítica.
Entre os segundos estão algumas circunstâncias próprias ao mundo contemporâneo, entre eles o fato de o alto nível de ligação entre as economias em todo o globo incluírem alguns países árabes cujo nível de abertura econômica é maior, inclusive, que o brasileiro, tais como os Emirados Árabes e o Qatar.
O Segundo é a aliança entre Estados Unidos e a Arábia Saudita, aliada ao fato de esse país ser o membro mais influente da OPEP, fator o qual o transforma em um player determinante, capaz de fazer gravitar em torno de seus interesses os de outros importantes exportadores.
Nesse sentido, é importante salientar que, diferentemente do que ocorreu durante os conflitos que marcaram o primeiro e segundo choques internacionais do petróleo, os membros árabes da Opep parecem estar inclinados a prestar um apoio apenas formal à causa palestina. Nota-se uma tendência a não engajar tropas, pelo menos oficialmente, no conflito atual. Talvez esse seja um indicativo de uma postura originada em uma leitura de situação a qual considera importante evitar o conflito justamente para manter os preços do petróleo o quanto possível estáveis.
Como quer que se descortine o futuro de mais uma guerra que se avizinha em mais uma área sensível para a produção da matéria-prima mais importante para o setor de combustíveis, o fato é que seus desdobramentos podem acelerar ainda mais a urgência da transição energética. Assim como o Proálcool da década de 1970, este pode ser um momento de conferir amplitude a potencialidades brasileiras nesse estratégico nicho de atividade econômica. Mas isso é tema para as próximas análises neste espaço.
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