A eliminação dos combustíveis fósseis foi o tema cujo encaminhamento foi o mais aguardado entre todos os assuntos abordados pela 28ª Conferência Internacional do Clima (COP), ocorrida em Dubai e finalizada na última terça-feira (12).
O Consenso dos Emirados Árabes Unidos, como já é conhecido o documento final, dividiu opiniões, que ficaram entre o otimismo da continuidade da promessa da diminuição do uso de combustíveis fósseis e o pessimismo quanto a uma tônica das conferências do clima, desde sua criação: a dificuldade em se estabelecerem metas eficientes e que revelem a real vontade das nações participantes de superar os desafios levantados.
Quem se desiludiu menciona a força das expressões em uma carta como o Consenso dos Emirados Árabes Unidos. Ao invés de trazer a expressão “eliminação gradual dos combustíveis fósseis”, como desejava o grupo dos megadiversos e maiores detentores de florestas tropicais, bloco de países liderado pelo Brasil, o texto final ganhou o termo “transição para a saída”. Para os críticos, a frase soa como mais um tênue compromisso de diminuição do uso de derivados de petróleo e carvão mineral na teoria e, na prática, a validade do famoso “empurrar com a barriga” o problema.
Contraditoriamente ou não, o “problema” é cada vez mais evidente. As alterações, ao que tudo indica, definitivas, em dados climáticos como o regime de chuvas, a rotinização das tempestades e o aumento da temperatura global parecem indicar um quadro já instalado de mudança climática. O argumento é o de que, se não são responsáveis sozinhos pelo cenário, os hidrocarbonetos respondem por boa parte da culpa.
Quem defende o Consenso dos Emirados Árabes Unidos o faz pelas razões de defesa de outros resultados de outras edições das COP: a validade das intenções. As 200 ações signatárias da Carta de Dubai se comprometem em triplicar o uso de energias renováveis e duplicar a eficiência energética até 2030. A tarefa exige grande esforço, e o tempo limitado para realizá-la parece deixá-la ainda mais longe da razoabilidade das metas alcançáveis.
Para o setor do comércio varejista de combustíveis, os acordos realizados na COP28, aparentemente, não vão alterar nada, pelo menos no médio prazo. No caso específico do Brasil, o país possui, como tem sido argumentado neste espaço, todas as potencialidades para promover uma bem-sucedida transição energética no setor dos combustíveis sem que isso impacte a sobrevivência dos postos de combustíveis, como tem ocorrido com as nações que já optaram pela eletrificação ou aquelas que tem nesse modelo sua única saída possível.
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O fato de ser o maior produtor e consumidor de etanol de cana de açúcar do planeta, condição equivalente quando se fala em biodiesel, indica para o país um caminho que passa pela hibridização de frota e não uma completa eletrificação. Assim sendo, o combustível líquido comercializado pelos postos vai continuar a mover a frota brasileira, que vai se hibridizar ao invés de se eletrificar integralmente.
Essa é a base real sobre a qual se assenta o discurso mais ambicioso do Brasil na COP28, bem como a liderança inequívoca que o país exerce nesse tabuleiro. Dois fatos relativizam e podem comprometer, entretanto, essa liderança.
O primeiro deles emana do próprio Consenso dos Emirados Árabes Unidos. Pela primeira vez na história das COPs, a produção agrícola foi diretamente responsabilizada pelo cenário de mudança climática. Ora, se o cerne produtivo do modelo brasileiro de combustíveis renováveis se dá por meio do agronegócio, essa condição pode se tornar a base para que o país se torne campeão da causa do clima em vilão ambiental.
O segundo deles foi causado por uma decisão governamental interna. A quase assegurada adesão do Brasil ao grupo OPEP+, formado por grandes produtores e exportadores de petróleo convidados pelos membros originais da organização que controla o preço da commodity fóssil, emitiu um sinal contraditório acerca do comportamento internacional do país no tabuleiro da mudança climática que não passou despercebido, quer pela imprensa, quer pelos grupos de opinião internacional engajados no tema, quer pelos países envolvidos.
A verdade, ao fim e ao cabo, parece ser esta: o mundo ainda não descobriu uma forma globalmente eficiente de se ver livre do petróleo. Isso também é verdade para o Brasil, maior modelo de matriz alternativa e limpa de combustíveis. Bom ou ruim para o clima, o cenário para o setor do comércio varejista de combustíveis permanece, pelo menos por enquanto, inalterado: segue o ritmo das operações, com as bombas a funcionar como têm funcionado, desde o fossilizado século passado.
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