A mais recente viagem do atual presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva ao Egito e à Etiópia, novos membros do BRICS+, além de estreitar a relação comercial entre os países, também sinaliza uma oportunidade destacada inúmeras vezes neste espaço.
Tem sido pauta constante em nossa análise o potencial redimensionamento histórico da economia brasileira a partir de uma definitiva mudança na matriz energética global na era pós-carbono, inclusive partindo dos maiores PIBs do planeta.
Representantes de grandes companhias, bem como diferentes lideranças mundiais que tratam do tema, sugerem que a eletrificação das frotas de veículos em escala global se apresenta, cada vez mais, como uma alternativa, no mínimo, questionável. E uma nova variável surge nessa equação: a competição entre alternativas viáveis para a produção de energia elétrica pelos parques industriais.
Tal cenário se torna ainda mais dramático, principalmente levando-se em conta que algumas das principais economias do ocidente se preparam para uma nova era de protecionismo movido, sobretudo, pelo aprofundamento da invasão da indústria chinesa, que ameaça tomar de assalto os mercados internos de produtos de maior valor agregado, o que pode vir a ocorrer rapidamente, a se efetivar o processo de digitalização da moeda chinesa, o Yuan.
Uma das únicas alternativas restantes é adotar estratégias as quais minimizem essa sede das frotas de veículos pós-carbono por uma energia elétrica que deve ser mais barata, para conferir aos parques industriais uma maior competitividade. Não há outra saída. E é aí que o Brasil se torna uma variante estratégica a nível global.
O modelo de hibridização de frota brasileiro, a partir de etanol de cana e biodiesel, torna-se uma excelente alternativa. Porém, como as próprias condições do mercado interno indicam, os limites estruturais para uma necessária expansão da produção, tendem a resultar em escalada dos preços. A saída é procurar novas áreas de plantio de cana-de-açúcar, planta tropical, e também procurar quem financie tal empreitada.
As áreas existem e se encontram na África Subsaariana, com seus vastos territórios localizados na zona tórrida do planeta, terreno onde a cana-de-açúcar se sente à vontade para crescer. O financiamento também existe, pelo menos em potencial: a China, no tabuleiro de articulação do Brics. Inclusive, o Yuan digital pode vir a ser a estrada pavimentada para uma formidável articulação triangular.
E o Brasil? Nosso país se apresenta com um know-how de avanço tecnológico de quase meio século na melhoria genética de cultivares de cana-de-açúcar, com o mais bem-sucedido programa de produção de combustível líquido limpo e renovável que o mundo conheceu até o momento – o Proálcool -, e com a mais moderna e competitiva agricultura de precisão do mundo. Aqui reside a tecnologia para o plantio, a instalação das plantas de usinas e a montagem da infraestrutura de logística de distribuição que o continente africano está pronto para receber.
Para a realização desse ambicioso projeto, é preciso atrair os atores que exercem influência regional no contexto Africano. O principal player nesse sentido é a África do Sul, que já é membro do Brics. Restava a nação mais influente ao norte do continente, o Egito. Além desses, faltava também um país que pudesse exercer uma liderança formidável nas imediações do Chifre da África, bem como junto à África Oriental, com seus atrativos portos. Aí se apresenta a Etiópia.
Ao conquistador Alexandre, O Grande, atribui-se uma frase que ficou famosa: “A sorte favorece os ousados”. Por muito tempo, o Brasil contou com a sorte de abrigar uma natureza pródiga para se tornar a maior potência agrícola do planeta. Chegou o momento de arrojar sua avançada tecnologia para ousar e mudar sua inserção mundial, de mero fornecedor de commodities para país chave na produção de técnica e conhecimento avançado em um mundo pós-carbono e que desesperadamente procura fugir dos efeitos da mudança climática, que já se fazem sentir.
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