A participação do CEO da Raízen, Ricardo Mussa, de uma rodada de debates no último encontro do G-20 veio abordar um assunto amplamente explorado neste espaço.
Trata-se das potencialidades energéticas do Brasil em um mundo em transição para uma economia pós-carbono em geral e, mais especificamente, o papel formidável que o etanol à base de cana-de-açúcar tem a desempenhar nesse futuro.
Desde muito cedo, e antes que a maior parte dos veículos de comunicação e representantes de grandes operadores neste mercado se manifestassem, nós, neste espaço, viemos insistindo: o modelo ideal para o mercado de combustíveis voltados para o transporte no Brasil, em um cenário de economia pós-carbono, não é o da total eletrificação, como boa parte da opinião pública dentro e fora das fronteiras brasileiras parece advogar.
O que estamos defendendo é, de longa data, a estruturação de uma frota, não só de automóveis particulares, mas de veículos de transporte coletivo de passageiros e de cargas, a partir de um modelo de hibridização, ou seja: veículos com motor funcionando a partir de baterias elétricas, mas dotados também de motores a explosão a partir de combustíveis líquidos renováveis e limpos.
E a alternativa do futuro é o etanol de cana de açúcar. Por quê? A razão é simples: a alternativa mais escalável à mão, o etanol a partir de milho, é tão poluente quanto os combustíveis fósseis. Somente o etanol à base de cana de açúcar é capaz de conferir a uma frota numerosa e variada, não somente no Brasil mas em todas as partes do planeta, uma matriz limpa o bastante para ser considerada, de fato, de tipo pós-carbono.
Ricardo Mussa foi claro em sua explanação. Com visão larga e mente estratégica que somente uma aguçada percepção empreendedora pode apreender, ele enxergou na atualmente ampliada capacidade brasileira de produzir energia barata a partir das fontes eólica e solar uma oportunidade histórica: o de converter essa oferta a preço baixo para embasar um novo parque industrial, totalmente voltado para a economia verde.
Nesse contexto, Mussa posiciona um insumo abundante, que a evolução tecnológica brasileira na produção de etanol combustível tornou estratégico e pode vir a resultar na oferta abundante de combustível líquido, com diminuição estrutural do sistema de preços: o bagaço de cana, que atualmente é utilizado, em larga medida, para a produção de energia elétrica, pode vir a ser usado para aumentar, em escala até então inimaginável, a produção de etanol.
Trata-se de uma conquista brasileira: o etanol de segunda geração, usualmente conhecido como G2, produzido a partir da eletrólise da celulose do bagaço de cana. Isso mesmo: álcool combustível a partir desse insumo, que se acumula fartamente nas usinas de cana de açúcar por todo o Brasil.
E mais. Esse é um modelo cuja internacionalização pode significar uma alternativa viável para um mundo que se quer livre dos combustíveis fósseis. Nesse sentido, uma possível governança internacional de um mercado mundial de biocombustível com o etanol de cana como principal commodity teria no Brasil seu principal provedor de tecnologia. É fato que o país, cuja iniciativa pioneira na produção desse produto data de mais de meio século, está à frente do resto do mundo.
As potencialidades para que o Brasil se torne um exportador de tecnologia passam por várias modificações estruturais que reposicionaram a economia brasileira no mundo, da exportação de know how na oferta de plantas de usinas até a transformação da Embrapa, de estimáveis conquistas no plano da seleção genética de cultivares de cana de açúcar, em uma companhia que pode repetir, na economia verde, o desempenho histórico da Petrobras na era do carbono.
Ricardo Mussa descortinou um futuro que dá aos brasileiros o direito de sermos otimistas. A grande questão é: teremos a vontade política, o arrojo e a ousadia necessários para efetivar essas potencialidades?
Se esses componentes se apoiarem na comprovada competência técnica da ciência brasileira, principal responsável por essa invejável posição que o país ocupa nesse cenário de futuro próximo, o sucesso será certo, e resultará, talvez, na primeira oportunidade material para o Brasil conseguir se soltar das amarras que historicamente o emperram, há mais de cinco séculos.
Quer receber todas as novidades, notícias e dicas sobre o mercado de combustíveis em primeira mão? Inscreva-se em nossa newsletter e receba tudo isso, gratuitamente, direto no seu melhor e-mail. Para isso, basta clicar aqui e informar seu nome e e-mail!