O mercado de combustíveis na Argentina parece estar sofrendo um início de colapso, a se confirmarem as últimas notícias acerca de uma interrupção no fornecimento de derivados de petróleo que já ocorre em vários postos na região metropolitana de Buenos Aires. A falta de oferta de produto no país platino já provocou uma medida por parte do governo local que promete afetar, inclusive, o mercado brasileiro: as exportações argentinas de petróleo estão terminantemente proibidas desde o início desta semana.
Além dos possíveis e óbvios impactos, em termos de preço, para o mercado brasileiro, maior comprador do petróleo argentino, uma análise das causas que levaram ao apagão de combustíveis no país vizinho pode ser ao mesmo tempo esclarecedor e temeroso. Como em outras áreas da atividade econômica, a Argentina praticou, ao nível do máximo radicalismo, práticas as quais parecem estar sendo encaminhadas na economia brasileira.
Uma delas é o tabelamento, bem abaixo de sua cotação internacional, do preço do barril de petróleo, que vinha sendo comercializado na Argentina por US$56. Todos os analistas locais afirmam que o maior gargalo não é a produção propriamente dita, pois a Argentina se assenta sobre uma das maiores reservas do Hemisfério Sul.
O problema é a capacidade de refino, e nisso os “hermanos” são mesmo bem parecidos conosco. Na medida em que a economia argentina sofre com a escassez de dólares, torna-se mais difícil manter as importações necessárias para o processo de refino.
Além disso, as distribuidoras convivem com uma conta que não fecha: a de ter de arcar com importações cada vez mais caras, por conta da escassez de reservas internacionais, aliadas à imposição de um preço de venda na bomba que não cobre os custos das operações. As opções não são nada atraentes: ou se continua a operar no vermelho, com direito a ameaça de greve dos trabalhadores do setor, ou fecham-se as portas, o que só tende a agravar ainda mais a crise no fornecimento.
O modelo argentino de exploração de petróleo é historicamente muito parecido com o brasileiro. Eles também têm a sua “Petrobras”: a Yacimientos Petroliferos Fisccales (YPF). Também como a gigante estatal brasileira, a YPF gozou de uma situação monopolística no mercado nacional. Porém, enquanto a Petrobras possui um passado de investimento em refinarias, a YPF preferiu concentrar sua ação no setor de prospecção. A conta desse equívoco chegou, e uma hora vai resultar em disparada de preços.
Como quer que se resolva em um futuro próximo, o caso argentino serve de alerta para os tomadores de decisão no mercado brasileiro de derivados de petróleo. Uma preocupação coesa dos principais operadores desse mercado era a de que o rompimento com a Paridade de Preço Internacional (PPI) fosse provocar, no extremo, escassez de produto e disparada de preços. Políticas públicas que tentem perverter as relações de mercado podem ser atraentes no início. O baixo preço do combustível na bomba pode gerar no consumidor a ilusão de prosperidade e uma alavancagem nos dividendos de capital político do tomador de decisão que opta pelo tabelamento. Entretanto, há um momento no qual o modelo começa a fazer água, pois suas contradições começam a se refletir no balanço das contas de quem opera no setor. Que o caso argentino sirva para que o Brasil evite esse canto da sereia. A saúde da economia nacional agradece.
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