Nos próximos anos, o Brasil poderá testemunhar uma mudança significativa em sua matriz energética, com a mistura de etanol à gasolina atingindo até 35% até 2037, segundo um estudo realizado por Lucas Brunetti, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA. Essa projeção, que faz parte das diretrizes da nova Lei do Combustível do Futuro, marca um passo importante na transição para uma economia mais sustentável e descarbonizada.
Para os revendedores de combustíveis, isso trará tanto desafios operacionais quanto oportunidades estratégicas, impactando diretamente o dia a dia das operações e a relação com os consumidores.
O Cenário Atual e a Projeção para 2037
Atualmente, o percentual de mistura de etanol anidro à gasolina está entre 22% e 27%, dependendo das regulamentações vigentes. A análise que propõe o aumento dessa mistura para até 35% ao longo dos próximos anos é um movimento que visa impulsionar ainda mais o uso de combustíveis renováveis no Brasil. Essa evolução do ciclo Otto, que inclui veículos movidos a gasolina e etanol, prevê um crescimento de 2,5% ao ano no consumo de combustíveis até 2037.
Os cálculos do estudo mostram que, nesse cenário, o consumo total de etanol anidro pode chegar a 9,5 bilhões de litros, com 4,9 bilhões desse total resultantes apenas do aumento da mistura. Para o mercado de combustíveis, isso significa que o Brasil continuará a se consolidar como um dos maiores produtores e consumidores de biocombustíveis do mundo, com reflexos diretos em toda a cadeia produtiva, desde o agronegócio até o varejo de combustíveis.
Impactos no Agronegócio e na Produção de Etanol
A demanda por etanol será um dos principais impulsionadores do crescimento do agronegócio nas próximas décadas. A produção de cana-de-açúcar, milho e outras matérias-primas utilizadas na fabricação de etanol deverá aumentar significativamente para atender a essa nova demanda. Isso representa uma oportunidade imensa para o setor agrícola, especialmente para regiões produtoras de cana-de-açúcar, que deverão ver uma expansão nas áreas de plantio e um aumento na geração de empregos.
Além disso, tecnologias mais avançadas de produção de etanol, como o etanol de segunda geração (2G), produzido a partir de resíduos agrícolas, também deverão ganhar espaço, contribuindo para a maior eficiência do setor e para a sustentabilidade ambiental. O agronegócio, portanto, terá um papel crucial na viabilização dessa mudança, fornecendo as matérias-primas necessárias para a produção de etanol em larga escala.
Desafios para os Revendedores de Combustíveis
Para os revendedores, o aumento da mistura de etanol à gasolina trará mudanças importantes que exigirão uma adaptação tanto operacional quanto estratégica. Um dos principais desafios será a questão da infraestrutura. A armazenagem e o manuseio do etanol exigem tanques e sistemas de abastecimento adequados, além de uma logística eficiente para garantir a qualidade do combustível entregue ao consumidor. Postos que ainda não possuem a infraestrutura necessária terão que investir em melhorias para se adequar a essa nova realidade.
Outro desafio será a questão do preço. Embora o etanol seja, em muitos casos, mais barato que a gasolina, a flutuação nos preços das matérias-primas agrícolas e a variação na demanda podem impactar o preço final do combustível nos postos. Os revendedores devem estar preparados para lidar com essa volatilidade, ajustando suas margens de lucro e, ao mesmo tempo, oferecendo preços competitivos ao consumidor final.
Preparando-se para o Futuro
O aumento da mistura de etanol à gasolina para 35% até 2037 representa uma oportunidade única para o Brasil se consolidar como líder global na produção e uso de biocombustíveis. Para os revendedores de combustíveis, essa mudança trará tanto desafios quanto oportunidades. Aqueles que estiverem dispostos a investir em infraestrutura, inovação tecnológica e marketing estarão bem posicionados para capitalizar as oportunidades trazidas por essa nova realidade.
Ao mesmo tempo, será fundamental que o setor como um todo se prepare para lidar com as mudanças no comportamento do consumidor e na dinâmica de preços.