A reunião dos membros da Organização de Produtores e Exportadores de Petróleo (Opep), destinada a promover a revisão dos valores internacionais do produto, vai acontecer no dia 26 de novembro. A julgar pelas percepções das principais agências de avaliação de cenário, a estimativa é o da manutenção, pelos próximos dois anos, do mesmo nível de demanda. O que pode pesar contra o consumidor vem do lado da oferta.
De um lado, há um forte sentimento revisionista por parte da Rússia contra o Ocidente por conta da guerra na Ucrânia. O país eslavo é membro do Opep+, que é uma aliança entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e um grupo de países produtores de petróleo que não são da Opep, que incluem, além da Rússia, México e Cazaquistão. Não soou bem no Kremlin a tentativa das principais economias do Ocidente de manter o preço do barril em um teto de US$60, sobretudo, por meio de vetos supostamente levantados por conta do conflito no Mar Negro, um grande escoadouro mundial de petróleo.
Por outro lado, existe uma inegável pressão altista por conta da política de gastos do governo saudita, que ingressou em uma estratégia de aumento substancial da influência árabe por um incremento no soft power, sobretudo, pelas altas somas em dinheiro que o príncipe Mohammed Bin Salman vem injetando no campeonato de futebol do país, por meio de contratações de jogadores de idade mais avançada, mas que são garantia de estádios cheios, a exemplo de Neymar Júnior. Agências especializadas já assumem como certa uma elevação do preço do barril de petróleo saudita na casa dos US$100.
Enquanto isso, e já prevendo um choque da demanda interna no Brasil pelo etanol se essas tendências se confirmarem, a Raízen procura antecipar um plano de expansão de sua capacidade produtiva já em 2023.
A gigante do mercado de álcool combustível planejava promover uma alta significativa na produção do E2G – o etanol de segunda geração, feito à base de biomassa de cana de açúcar. Uma demonstração do quanto a companhia tem levado a estratégia é séria foi o anúncio, em maio deste ano, de um aporte de investimento da ordem de R$1,3 bilhão em sua usina de Caarapó, no Mato Grosso do Sul. Tudo para alavancar de vez o E2G.
Que produzir nunca foi tão necessário é fato compreensível. Afinal, foi o próprio CEO da Raízen, Ricardo Mussa, quem garantiu preços elevados no mercado de açúcar para 2023, garantidos, em grande parte, pela manutenção de um razoável nível de demanda internacional.
A tarefa não é nada fácil: trata-se de equalizar produção e demanda em um mercado de um produto configurado como uma commodity internacional, como é o caso do açúcar, com outra equação em um produto cujo principal mercado ainda é ditado pela lógica interna.
O caminho da alta de preços parece ser o único possível de se enxergar nesse cenário de apertos e demandas que tendem a se fixar em níveis altos. Como quer que seja, Mussa também reconheceu como fato consumado o aumento da margem de lucro presumido para a Divisão de Mobilidade da Raízen, o departamento que trata, justamente, das políticas da empresa para os postos de combustíveis.
Para a revenda, trata-se de um sinal não tão negativo. Se o futuro dos preços dos derivados de petróleo estão sob uma sombra alta como um vulcão, o mercado do etanol pode ter antecipado um quadro o qual pode se configurar como interessante para o setor: o de um bem-vindo choque de oferta na forma de E2G, um combustível que cada vez mais vem se afirmando como uma boa aposta no futuro do mercado brasileiro de combustíveis.
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