Caminhoneiros comemoram a lei que institui valores mínimos de fretes rodoviários praticados no Brasil, sancionada pelo presidente Michel Temer. A criação da tabela foi um dos pontos negociados pelo governo em maio, para encerrar a greve dos caminhoneiros, com preços mínimos para o transporte de cargas em cinco categorias: geral, a granel, frigorificada, perigosa e neogranel. Ao contrários dos caminhoneiros, empresários estão preocupados e no mercado de combustíveis, o tabelamento de fretes pode colocar postos de rodovia em risco. Entenda.
Seria muito simples se uma decisão política dessa relevância pudesse promover um agente econômico sem degradar nenhum outro, e na prática os efeitos negativos tendem a prevalecer. Vamos aos casos daqueles setores que serão bastante afetados com essa medida, como a agricultura, a pecuária e a indústria. O primeiro efeito e mais natural desse tabelamento seria um aumento dos custos logísticos dessas atividades que acabam por viabilizar, para muitas empresas, a opção de operar com frota própria.
Por exemplo, a JBS, maior empresa do setor de carnes no mundo, já deu um primeiro passo. Tem frota particular e decidiu ampliar o número de veículos adquirindo 360 caminhões. No mesmo caminho, GM e Cargill avaliam adquirir suas frotas próprias nos próximos meses. Até aqui, podemos nos perguntar como esse impacto sobre decisões produtivas e logísticas nos afeta. O problema é que o impacto é enorme!
Primeiro precisamos destacar o perverso efeito desse cenário sobre os preços básicos da economia, ao fim do dia, o consumidor vai pagar a conta através de produtos mais caros e inflação.
Chamo a atenção para um cenário desfavorável para a revenda: postos de rodovia em risco caso essa verticalização impacte no consumo de combustíveis.
A análise tem fundamento no fato de que grandes frotistas tendem a utilizar terminais próprios de abastecimento o que, por si só, já impacta na comercialização para esse público pela revenda, os postos de rodovia podem sentir o baque e pagar o pato.
No cenário atual do nosso mercado de combustíveis, esse pode ser um golpe fatal caso essa tendência se confirme. Além disso, os próprios caminhoneiros, que em tese seriam os mais beneficiados pelo tabelamento, podem sofrer dobrado com essa política, primeiro com o aumento de preços para toda a sociedade, e segundo, de forma quase irônica, pela redução de atividade, com oportunidades de frete reduzidas e consequentemente mais parados, sem trabalhar. Afinal, a demanda por fretes tabelados tende a diminuir com o aumento do seu custo.