Dando continuidade na série “Etanol, a carta na manga da energia brasileira”, no conteúdo de hoje trago uma análise sobre um tópico que sempre gera polêmica e diversas contradições quando o assunto é eletromobilidade: as baterias dos carros elétricos.
Antes de começarmos a análise acerca do assunto, é preciso ressaltar que as baterias dos carros elétricos possuem o mesmo papel que os tanque dos carros movidos a combustão onde carregam o combustível que gera energia para os veículos andarem. Veja que essa similaridade não para por aí, visto que os avanços das tecnologias proporcionaram baterias com autonomia cada vez maiores. Os desafios agora são dois. Primeiro, o tempo de recarga que ainda é alto e os custos inviabilizam investimentos para diminuir.
Segundo, o que fazer com as baterias quando for preciso trocá-las e o custo disso. Aqui acaba a similaridade com os veículos do ciclo otto. Veja que a troca da bateria ainda é um problema devido aos custos de reposição, estes serão resolvidos quando a estrutura de fabricação atingir alto nível que barateie o produto final. Aí só restará apenas mais uma questão, o que fazer com as baterias que não puderem ser recicladas?
Mas o que fazer com as baterias dos carros elétricos?
Há tempos que passamos por diversas mudanças no padrão de consumo dos motoristas ao abastecerem seus veículos. Há pouco mais de 30 anos atrás, só existiam veículos movidos a gasolina, diesel e etanol (que estava quase morto). De repente, chega o GNV e, alguns anos depois, o carro flex.
Veja o quanto mudou nesses 30 anos com relação às possibilidades e escolhas para o consumidor ao abastecer seu carro. Todas essas novas possibilidades serviram como uma base para o momento que estamos vivendo hoje de empoderamento do cliente e, consequentemente, o aumento de sua exigência.
Pensar que o carro elétrico terá apenas um modelo, é esquecer tudo que vem acontecendo com os carros movidos a combustão. Vamos citar apenas alguns modelos. Temos carros movidos a gasolina, gasolina + etanol (flex), gasolina + GNV, flex + GNV, diesel, dentre outros.
Com a chegada da eletrificação, agora temos: carro híbrido (gasolina + elétrico), flex + elétrico, híbrido plug-in (gasolina + elétrico) etc. E claro, as possibilidades dos carros 100% elétricos com uma bateria, 6 baterias e por aí vai.
Mas além de todas essas possibilidades de carros elétricos que necessitam das baterias de lítio, agora vai chegar ao mercado os carros elétricos movidos a hidrogênio, que dispensam baterias. E é aqui que entra o etanol.
A bateria serve para armazenar energia e possibilitar o deslocamento. A partir do momento que você usa um carro movido a hidrogênio você dispensa a bateria. O problema do hidrogênio é que ainda está em pleno desenvolvimento. A partir daí toda infraestrutura de produção, transporte e armazenagem deve ser modificada. Isso leva tempo e custa muito dinheiro. Estima-se que a China conseguiria fazer isso em 30 anos, imagine quanto tempo o Brasil levaria?
Portanto, o etanol é a solução.
Veja que é amplamente possível e de baixo custo gerar hidrogênio do etanol. Sendo assim pode-se ter carros elétricos movidos a hidrogênio, que dispensam as baterias, e não seria preciso mexer em quase nada na estrutura de produção, transporte e armazenagem visto que a transformação do etanol em hidrogênio se daria dentro dos postos revendedores de forma a se evitar altos investimentos na logística do hidrogênio.
Seja como combustível direto para uso nos carros, seja como matéria prima do hidrogênio ou até como abastecedor de termelétricas para geração de energia, o etanol tem a capacidade de dar uma competitividade forte ao Brasil em relação ao mundo.
O etanol pode ser o produto que vai sustentar, por dezenas de décadas a mais, os postos de combustíveis, mesmo depois do fim da era do petróleo.
O que a revenda precisa fazer para liderar essa transição?
O primeiro passo é sair do negacionismo e entender que a mudança não é no produto e sim na jornada do cliente. O consumidor tem mudado e por isso a fórmula que guiava os negócios está em plena mutação. Não por acaso vemos muitas empresas do varejo patinando e grandes empresas em situação difícil. O vento da mudança atingiu em cheio o varejo e para sobreviver a isso é preciso focar no consumidor.
A revenda de combustíveis tem que assumir o debate dessa nova mobilidade e da transição energética. Sei que a questão de preços é importante e não deve ser colocada de lado, mas fechar os olhos para o mundo e achar que comprar mais barato vai sustentar seu negócio daqui a 20 ou 30 anos pode ser perigoso. Mantenha o foco na administração e na estratégia de comprar mais barato, conquistar contratos mais equilibrados de fornecimento e também iniciar o trabalho de INTELIGÊNCIA DE CONSUMO.
Fique conectado nas tendências e invista em atualizações. Feiras, palestras e eventos do setor devem ser considerados como pós-graduação e devem ser aproveitados. Procure melhorar suas equipes, principalmente as de gestão. Diminua a burocracia e procure melhorar a jornada do cliente com o ATENDIMENTO SENSITIVO (a Errejota Training vai liberar seminários de liderança em atendimento sensitivo no segundo semestre deste ano).
Invista no etanol, busque parcerias com as distribuidoras. Inicie um trabalho de conscientização de que o etanol é verde e que não está tão distante assim da gasolina no rendimento. Ajude o cliente a fazer a sua conta. Você já faz isso todo dia para vender gasolina aditivada, então aumente seu mix de produtos especiais. Dá trabalho, mas pode diminuir a sua dependência da gasolina, das guerras de preços e da concorrência desleal.
Em minhas palestras sobre mobilidade, etanol e carro elétrico, tenho abordado esse assunto mais profundamente. Leve essa palestra para sua equipe, sua rede, ou peça para seu sindicato colocar na programação dos eventos do seu estado.
O carro elétrico vai mesmo acabar com os postos de combustíveis?
Apesar do que prega a indústria ao redor dos veículos elétricos, isso não vai acontecer e explicarei o porquê de forma simples. O carro elétrico não é o futuro, ele já faz parte da mobilidade atual e está em pleno crescimento por diversos fatores. Um deles é a necessidade que os países têm de diminuir a emissão de CO2
O ponto de venda, o posto revendedor, tem um poder de aglutinação de consumidores parecido com o dos shopping centers. Não tem como uma percepção como essa mudar da noite para o dia. Qualquer trabalho que seja feito durante esse processo pode compensar, num futuro médio, a perda de volume vendido. A revenda não precisa temer isso, mas precisa colocar no radar que os primeiros a sentirem o impacto causado pela eletrificação dos carros serão as distribuidoras e os próprios revendedores de combustíveis.
Os postos de combustíveis têm um papel no mercado brasileiro bem diferente do que se vê em outros países. Quem me acompanha já sabe que os revendedores são os maiores responsáveis pelo microcrédito do país. Isso mesmo, mais que os bancos. Os postos são menos exigentes e mais rápidos em fornecer crédito e crédito é dinheiro. Mesmo que o carro elétrico atinja alta participação no mercado em médio prazo, os postos continuarão com seu papel de fomentadores da economia, mesmo sem terem um incentivo governamental sequer para tanto.
No terceiro e último texto da série falaremos sobre o impacto do etanol na economia, e de como existe um valor agregado à sociedade por trás de seu plantio, colheita e produção.