Acordei em um dia qualquer de 2050 e estou aqui para relatar brevemente o que observei lá. Você está prestes a embarcar numa incrível viagem no tempo. O futuro é fascinante.
Ao acordar pela manhã fui tomar um banho. Estranhei que não havia interruptores de luz no banheiro nem registro d´água para abrir ou fechar no box, há sensores de presença que fazem tudo de forma automática, você só precisa dizer a temperatura que deseja ao se aproximar do sensor do chuveiro. A água quente é produzida por placas solares ou aquecedores a combustível, interligados e que se ajustam conforme a necessidade.
Biogás, gás natural, dimetil-éter (DME) ou o GLP, são os combustíveis utilizados para tal. Nas construções mais novas, a água do banho é armazenada e reutilizada nos vasos sanitários e no jardim.
As roupas são incrivelmente confortáveis, feitas de um tecido sintético que permite manter a temperatura corporal nos 36,5 graus celsius, independente da temperatura externa a elas.
Ao me dirigir para a cozinha, o café já estava pronto. A cafeteira foi acionada automaticamente pelo celular minutos após o despertador (sim, os celulares ainda têm despertadores). Na geladeira, me chamou a atenção o fato de os alimentos estarem em embalagens inteligentes, biodegradáveis, que pela cor te dizem a condição sanitária dele.
Às 7h15m, recebi uma mensagem no celular de que um táxi estava na frente de casa me esperando. O pedido do veículo para aquele horário partiu automaticamente do celular. A surpresa maior, porém, foi descobrir que o veículo não tinha motorista, era um táxi autônomo.
Dentro dele, uma confortável poltrona, frigobar, mesa retrátil, entre outros utensílios que eu não me arrisquei a utilizar. O compartilhamento de veículos autônomos é adotado em larga escala, sendo bastante comum as pessoas não terem mais carros próprios.
Retropesctiva na Coluna do Gauto
- O refino do futuro
- Gasolina made in Brazil
- “Petro greens”: a transição das majors do petróleo
- De volta para o futuro: a indústria de O&G revive 1990. Ou seria 2050?
- Gás de sobra, demanda de menos
Nas ruas, percebe-se muitos veículos elétricos, embora ainda circulem muitos carros a combustão, movidos majoritariamente a biocombustíveis. Nos grandes centros urbanos, gasolina e diesel foram legalmente proibidos, sendo, contudo, ainda utilizados em larga escala em outras regiões mais interioranas.
Os postos de combustíveis estão diferentes, ofertam etanol, diesel, recarga rápida e troca dos módulos de baterias descarregadas por outras carregadas, na modalidade de self-service.
Questionei ao Freddie, um agente de pesquisa e amigo virtual que existe no holophone (smartphones holográficos) se as baterias utilizadas pelos veículos elétricos eram de lítio e recebi uma sonora gargalhada dele como resposta (O Freddie até perece gente). O lítio caiu em desuso e as modernas baterias de nanotubos de grafeno, desenvolvidas na China, entre outras novas tecnologias existentes, tomaram conta do mercado.
É visível também que painéis solares se tornaram bem mais comuns, estampam os telhados das casas e fachadas de prédios por onde se passa. Muitos deles são apenas finas películas que captam a luz do sol e a transformam em energia. Você pode comprar essas películas por metro, a baixo custo, em qualquer loja de materiais de construção.
Quando cheguei, finalmente, ao trabalho, novas surpresas. A refinaria de petróleo era ainda muito semelhante as de 2020. Alguns processos, todavia, mudaram, o número de pessoas reduziu drasticamente, assim como os combustíveis que nós produzíamos lá. A unidade ainda refina petróleo, mas se tornou uma fábrica híbrida, geradora de combustíveis fósseis e biocombustíveis, além de parte dela ter sido convertida em central termoelétrica.
O perfil de consumo de derivados mudou bastante nos últimos 30 anos. A produção de óleo combustível e gasolina foram os mais afetados, com os biocombustíveis, gás natural e veículos elétricos tendo avançado significativamente nos mercados por eles atendidos.
O consumo de petróleo, enfim, entrou em declínio, mas ainda é relevante o seu uso na sociedade. Os árabes desenvolveram técnicas avançadas de captura de carbono da atmosfera, graças aos elevados preços dos créditos de carbono, o que tem dado sobrevida ao “ouro negro”.
Dando uma pausa no tema da energia, decidi pesquisar no holophone sobre o Brasil. Descobri que ele segue tendo uma das cargas tributárias mais altas do mundo e que a desigualdade ainda é muito alta no país.
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Obviamente, tudo descrito até aqui não passa de ficção. É um pequeno exercício de como poderá ser o nosso futuro. Amigos, colegas, jornalistas, políticos, entre outros, temos ainda a oportunidade de fazer do Brasil um país diferente, melhor. O futuro da nossa nação depende das ações que temos e teremos.
Por mais que a gente possa imaginar um futuro repleto de tecnologia e transformações, de nada adiantará se não formos capazes de reduzir a desigualdade.
É preciso construir um futuro diferente, para além do moderno: mais igualitário. Esta caminhada está apenas por começar em 2021, e eu espero que o Freddie tenha boas notícias do Brasil lá em 2050.
Abraço!
Feliz 2021!
Fonte: Marcelo Gauto para Agência epbr