O setor de combustíveis tem um novo fator para geração de expectativas de alterações estruturais do mercado no Brasil com a notícia de uma possível fusão entre a Eneva, companhia com foco em energias renováveis, e a Vibra, antiga BR Distribuidora, importante ator na área de distribuição e implantação de novas matrizes energéticas.
Ambas as empresas já preparam a contratação de instituições financeiras e escritórios de advocacia para tratar da fusão, a qual, se concretizada, cria uma gigante com receita combinada que pode chegar a R$171 bilhões em 2024.
Se a iniciativa tem um significado relevante por si só, a partir da mera consideração de seu tamanho e de seu poder de mercado, o tipo de ativo envolvido marca uma importante sinalização para o setor de combustíveis como o todo: o processo de renovação da matriz energética nesse nicho de atividade econômica é perspectiva que, definitivamente, não se limita a políticas governamentais ou pautas ambientais.
Sob a perspectiva da Vibra, a possível fusão tem relevância estratégica, pois a avaliação é a de que esse movimento diminuiria a volatilidade dos papéis da companhia no mercado financeiro. Isso se deve ao fato de a empresa atuar em um mercado onde a Petrobras exerce forte influência. Em se considerando a recente oscilação do preço internacional do petróleo, pode-se estimar o quanto essa instabilidade afeta a avaliação dos investidores a respeito das ações dos principais operadores neste mercado.
Já aqueles que enxergam com cautela a possível fusão apontam como principal fator de desconfiança a diferença de tamanho entre as duas empresas. Calcula-se que a Vibra possui quatro vezes mais ativos que a Eneva. Já os defensores afirmam que mesmo essa diferença de dimensão tende a ser reduzida ou desaparecer diante do potencial dos ativos da Eneva, em vista do potencial dos contratos já assinados pela companhia em setores com animadoras taxas anuais de crescimento, tais como a energia eólica, bem como a valorização das operações com gás natural.
As avaliações otimistas parecem confirmadas pelos números: juntas, as duas empresas devem apresentar um faturamento de R$15 bilhões nos próximos quatro anos, sem considerar a fusão. Os céticos apontam um senão: tal avaliação foi medida em taxas de juros do tipo Ebitda, que exclui importantes elementos de análise como impostos a pagar, depreciação e amortização.
Essas contas estão elencadas entre as mais relevantes pelos tomadores de decisão de investimento, no momento da checagem do Balanço Patrimonial. Ou seja: o risco existe, mas depende, em grande medida, da confirmação de expectativas positivas ligadas à evolução do processo de transição energética do Brasil. Assim, ainda que exista, há um alto grau de possibilidade de cálculo na avaliação do risco, o que, por si só, já contribui para torná-lo mais seguro.
Mas é a avaliação de boa parte dos executivos da Vibra o fator preponderante em um processo de modificação estrutural do mercado de combustíveis no Brasil, debate este o qual esta coluna tem o orgulho de ser uma das primeiras a ter levantado. De acordo com a diretoria da Vibra, o principal critério de avaliação para se superar as desconfianças geradas pela diferença de dimensões entre as duas companhias reside em uma visão mais aprofundada, assentada sobre o etanol, item que a empresa enxerga como produto o qual estará presente na estratégia de transição energética do Brasil por longo prazo.
Tal análise só vem a confirmar o que se tem repetido inúmeras vezes neste espaço: a transição energética brasileira se dará de forma diferenciada em relação ao resto do mundo, pois a frota nacional caminha no sentido da hibridização ao invés da integral eletrificação, em vista da vantajosa dotação de matérias primas renováveis de nossa matriz energética.
Assim, essa vantagem tão relevante para o futuro do país se configura, também, uma vantagem estratégica para o setor da revenda de combustíveis, cujo nível de receio de uma mudança que possa ameaçar a existência dos negócios instalados parece ser perspectiva, senão distante, totalmente impossível. Nesse sentido, que venha a fusão. O mercado de combustíveis, o meio ambiente e o futuro do Brasil agradecem.
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