Meu avô iniciou um Posto Petrobras em Santa Maria de Itabira, MG, no ano de 1973. Uma cidade pequena e que tinha no comércio a principal economia da cidade, às margens da estrada que cortava o município. O Posto Pires, de meu avô, se localizava nessa via e esse comércio foi a base de sustento para os filhos e o pilar de novos negócios para a terceira geração da família. A cidade se construiu ao redor desse próspero posto, local central do pequeno vilarejo que hoje tem 10.000 habitantes.
Durante 43 anos fomos fiéis à Petrobras, compramos 100% da distribuidora durante todo o tempo e fomos excelentes clientes, nunca atrasamos um pagamento. Fizemos a nossa obrigação e mesmo assim nunca tivemos moleza, nosso prazo de pagamento era de 1 dia.
Em 1997 fizemos a última renovação de contrato, mas tivemos um gravíssimo erro: aceitamos os tanques da distribuidora em comodato. Isso não se faz, nunca aceite em comodato algo que fica embaixo da terra, pois na hora de reincidir ou renovar o contrato, não terá moleza.
Nosso contrato terminou em 2001 e desde então decidimos não assinar outra renovação, continuamos comprando na Petrobras e mantínhamos a marca por uma questão de credibilidade e por acreditar que o fato de não ter o investimento da companhia nos daria melhores condições comerciais, além de poder sair a qualquer tempo.
Por volta do ano 2000 começou um período de desgaste com a distribuidora, entravam e saiam gerentes regionais com frequência, cada um fazia uma promessa e ou dizia que o prometido na gestão anterior não fazia parte da política da Petrobras.
Pedimos que a distribuidora revitalizasse a imagem do posto que estava desgastada, padrão antigo, sem apelo ao consumidor e recebíamos sempre a mesma resposta: deveríamos assinar um novo contrato. Mas a imagem na testeira do posto era da distribuidora, portanto, era ela quem devia zelar pela sua imagem, pelo seu nome, mas não… ela queria um novo contrato, entendia que a imagem era mais importante para o posto do que para ela e colocava isso como uma condicionante.
Em 2014 resolvemos sair da Petrobras, terminar um contrato de 41 anos, mas aí começou uma outra luta. Queríamos sair e nos tornar bandeira branca, ou mudar de distribuidora, mas como não éramos proprietários dos tanques, a Petrobras não aceitava isso. Nossa proposta era: comprar os tanques e ou então que, em nome das quatro décadas de fidelidade e parceria, que ela nos doasse os tanques.
A resposta da Petrobras era que retirássemos os tanques e que levássemos a um depósito dela. Foi uma situação desagradável, um erro que cometemos em aceitar um contrato em comodato no passado e que nos obrigou a aceitar qualquer decisão da distribuidora em questão, no presente.
Esse posto que no passado estava em um local estratégico, já não valia a pena ter grandes investimentos, não valia a pena uma grande reforma com troca de tanques e linhas. Construímos um novo posto a 500m de distância desse e já tínhamos implantado em todos nossos postos um programa de fidelidade exclusivo para postos de combustíveis, com isso, criamos benefícios para nossos clientes do programa de fidelidade abastecerem apenas nesse novo posto.
Esvaziamos nosso posto Petrobras, era um mal necessário, e levamos todo o movimento para o posto novo, bandeirado pela Ale, e que tinha melhores condições comerciais.
Em 2016 decidimos fechar nosso posto Petrobras, após 43 anos, um posto que foi referência na região e que vendeu mais de 60 milhões de litros ao longo desse período. Enviamos uma carta de rescisão de contrato. Hoje, quase 2 anos depois ainda aguardamos um retorno, que fosse um simples “Ok, confirmado” ou “Obrigado”, mas não recebemos absolutamente nenhum retorno, descaso total.
Restou a certeza de que éramos um simples número na distribuidora , um CNPJ que comprou e parou de comprar, na verdade não éramos nada. Que a Petrobras e outras distribuidoras mudem essa prática, que valorizem seus revendedores, que levem em conta os anos de parceria, fidelidade, compromissos honrados, pois o receio de virar bandeira branca, não existe mais.