Não há um país sequer no mundo que não deseje ser autossuficiente em termos de energia. O petróleo é uma das principais fontes energéticas sobre o qual se discute a dependência externa, por ser um mercado fortemente influenciado por questões geopolíticas complexas. O valor da independência energética é muito maior do que o impacto financeiro vindo das importações de petróleo, envolve juntamente uma percepção político-estratégica, de soberania nacional, já que o mercado de petróleo é conhecido por sua cartelização oficial desde os seus primórdios. Afinal, o Brasil é autossuficiente em petróleo?
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O país buscou, através da Petrobras, sua independência por petróleo. Entre as décadas de 1940 e 1970, o país importou mais de 80% do que necessitou em petróleo, impactando negativamente a balança comercial brasileira. As crises do petróleo em 1972 e 1979 tornaram ainda mais evidente a necessidade de se procurar pelo produto em território nacional, quando os preços da commodity quase sextuplicaram ao longo da década de 1970. Foi aí que a busca por petróleo avançou mar adentro em nossa costa, assim como o surgimento de alternativas como o “Pró-Álcool”.
A descoberta e produção, a partir de grandes reservas de petróleo, ocorreria pela Petrobras na costa do Rio de Janeiro de forma consistente na década de 1980, na famosa Bacia de Campos. Foi lá que tivemos êxito com “peixões de óleo” como Garoupa, Marlim, Albacora e Roncador. Virou tradição batizar os campos marítimos com nomes de animais marinhos desde então, inclusive. A estrada para a autossuficiência brasileira em petróleo estava sendo finalmente construída.
Como o Brasil conquistou a autossuficiência em petróleo?
Para saber se um país é ou não autossuficiente em petróleo é preciso avaliar a produção e a balança comercial de exportações e importações de petróleo. Somando-se o valor da produção nacional com a de importação e descontando-se as exportações, consegue-se chegar no consumo aparente de petróleo no país. Cruzando-se os dados disponibilizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), observa-se que a partir de 2006 a produção de petróleo finalmente superou o consumo dele no país, exceto em 2007 e 2013 por questões pontuais, de modo que o Brasil é autossuficiente na produção de petróleo, ou “ouro negro”, desde então, conforme apresentado no gráfico 1.
O ano de 2006 foi celebrado e ficou conhecido como o ano da “conquista da autossuficiência” em petróleo no Brasil. Foram necessários 68 anos para se atingir tal feito, tempo que passou desde o pioneiro poço de Lobato (BA), em 1938, até o início da produção dos poços do campo de Albacora Leste com o navio-plataforma FPSO P-50, em 2006.
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Por que o Brasil tem que importar petróleo se é autossuficiente?
É preciso salientar, todavia, que o fato de ser autossuficiente não significa necessariamente que a importação de petróleo não ocorra mais, mas apenas que o volume importado é inferior ao exportado. Em alguns casos, é necessário importar algum tipo de petróleo específico, dependendo do esquema de refino adotado e do tipo de derivado que se deseja produzir.
A Refinaria Duque de Caxias (REDUC-RJ), por exemplo, importa quase metade do petróleo que utiliza, porque necessita de um tipo especial de óleo dito parafínico para produção de lubrificantes. A Refinaria Riograndense (RS) utiliza 100% de petróleo importado, dadas as características da sua unidade de processamento, muito antiga e com baixa capacidade de conversão de óleo pesado em derivados leves.
A maioria das refinarias do país, contudo, utiliza hoje óleo nacional como insumo, variando de 80 a 90%, em média, da carga de refino, conforme pode ser observado no gráfico 2. Isso é possível graças as nossas novas descobertas de óleo médio-leves do pré-sal, por exemplo.
Num passado não muito distante, a nossa produção era de petróleo mais “pesado”, cujo processamento rendia menos gasolina e diesel nas refinarias, sendo necessário importar óleo leve para misturar com parte deste óleo mais denso. O excedente de óleo pesado era, então, exportado.
Os campos de petróleo descobertos nas décadas de 1970 e 1980 eram majoritariamente de óleos pesados. As gigantes reservas de Marlim, Albacora e Roncador, por exemplo, eram de óleos considerados pesados. As descobertas dos últimos 20 anos, porém, inverteu essa tendência. Os campos de Lula e Sapinhoá no pré-sal brasileiro, por exemplo, maiores produtores da atualidade, oferecem óleos médios-leves.
O petróleo de Búzios, que deve se tornar nosso maior campo produtor até 2030, é também um óleo médio-leve, excelente para produção de derivados de forma equilibrada. Assim, pode-se dizer hoje que além de autossuficientes em volume de petróleo, temos também óleos de excelente qualidade sendo produzidos no país, os quais são apreciados mundo afora. O Brasil, inclusive, exportou mais de 1 milhão de barris por dia (bpd) em 2018 e 2019, o que nos coloca entre os grandes exportadores mundiais de petróleo. O próximo passo é fazer o mesmo com os derivados de petróleo.
O Brasil possui um déficit de derivados em petróleo
Mesmo o Brasil sendo autossuficiente na produção de petróleo, a mesma questão não ocorre em relação aos derivados de petróleo no país desde 2008, quando o consumo de derivados superou a oferta interna de forma sistemática, o que pode ser evidenciado no gráfico 3.
O principal derivado que puxa nossa balança comercial de derivados para negativo é o diesel (ver figura 1), o qual somos dependentes de importação em grande escala, isto é, não somos capazes de produzir nas nossas refinarias quantidades suficientes para atender a demanda.
Interessante notar que o Brasil passou a ser autossuficiente em petróleo praticamente na mesma época em que se tornou deficitário líquido por derivados. Isso ocorreu porque a produção de óleo e o consumo cresceram mais rápidos do que nossa capacidade de refino. A solução para reduzir este déficit comercial está na ampliação da nossa capacidade de produção daqueles derivados em que somos deficitários (GLP, gasolina, nafta petroquímica e diesel, especialmente).
Conquistar a autossuficiência em derivados de petróleo é o próximo passo
O mais difícil já foi feito, que foi encontrar e produzir petróleo em larga escala, atendendo a demanda do país. Quem sabe até o final da próxima década não se alcance também a autossuficiência em derivados de petróleo, reduzindo a evasão de divisas que temos hoje com a importação de derivados. A oportunidade existe, é desafiadora, e está posta. Vamos adiante, em busca de mais esta conquista para o Brasil.
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