No Mês da Mulher, e analisando o setor com o qual lidamos diretamente e diariamente, não há como não lembrar de postos importantes ocupados por mulheres dentro da cadeia de combustíveis. Um exemplo contemporâneo dessa ascensão feminina foi a indicação do Governo Federal, ainda na gestão passada, de duas mulheres para o Conselho de Administração da Petrobras: Cynthia Santana Silveira e Ana Silvia Corso Matte. À primeira vista, as indicações não passaram imunes a contestações balizadas em preconceitos há muito estabelecidos no mercado de trabalho. Afinal, é mais fácil concluir que as escolhas foram fundamentadas em determinações de gênero e não em considerações profissionais e meritocráticas.
Ledo engano. As trajetórias profissionais de ambas as executivas resultam em impecáveis currículos em postos estratégicos de importantes empresas e instituições no setor de energia e combustíveis.
Cynthia Santana Silveira tem larga experiência como membro de cúpula de empresas e entidades de peso, sobretudo, no setor de gás natural. Antes de ser indicada para o conselho administrativo da mais importante empresa brasileira, ela foi presidente da Transportadora Brasileira do Gasoduto Brasil-Bolívia, a iniciativa nacional de maior envergadura no que diz respeito à distribuição de gás natural do Brasil.
Ana Silvia Corso Matte é uma das mais respeitadas profissionais do setor de governança corporativa do país. Como membro externo independente, já compunha, desde 2021, um importante órgão interno da própria Petrobrás: o Comitê Estatutário de Pessoas (COPE). Também é membro da Comissão de Pessoas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
Um setor em ascensão
A natureza da escolha é, portanto, clara: ambos os novos membros possuem larga experiência em ramos estratégicos da vida corporativa, e tem larga contribuição a dar em um setor no qual o novo presidente da Petrobrás, Jean-Paul Prates, parece conferir especial importância como ramo de relevância fundamental para o futuro da Petrobrás e da economia brasileira como um todo: a transição da empresa para uma economia verde, plenamente adaptada às demandas econômicas de um país que se deseja inserido em uma era pós-carbono.
Para o setor de revenda, as escolhas não soaram como novidade. Postos de combustíveis são comumente dirigidos e gerenciados por mulheres. Em tempos ainda mais recentes, é cada vez mais frequente a contratação de mulheres entre frentistas, estoquistas e profissionais da área de segurança do trabalho, profissões as quais, em outros ramos de atividade econômica, ainda continuam quase exclusivamente relegadas a homens.
Mulheres na Revenda
Em várias unidades da federação, a força de trabalho feminina avança de maneira clara e vigorosa. É o caso do Rio de Janeiro. Segundo dados do Sinpospetro-RJ, 30 % das vagas de trabalho ao longo de toda a cadeia de ocupações nos postos de combustíveis já são preenchidas por mulheres. Em Praia Grande, no litoral de São Paulo, uma revenda mantém uma unidade formada apenas por mulheres.
Entre os motivos do aumento da contratação estão os mesmos que caracterizam a larga presença de proprietárias de postos em um mercado aparentemente de predomínio absoluto do gênero masculino. Entre eles estão o maior comprometimento das mulheres com a aquisição de conhecimento e um mais apurado senso de responsabilidade na condução dos empreendimentos.
O resultado não poderia ser outro: de acordo com pesquisa realizada pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), as mulheres superam os homens nos ramos mais competitivos de atividade econômica (incluindo-se aí o setor de derivados de petróleo) desde 2016. Entre os empreendedores jovens (entre 20 e 35 anos), elas também levam a melhor. De acordo com o mesmo think tank de análise do mercado de trabalho, mais de 15% dos novos negócios abertos são conduzidos por jovens empreendedoras. Entre os homens, essa taxa é 3% menor.
O setor de energia em geral e o de derivados de petróleo em particular deixou definitivamente de ser uma atividade predominantemente masculina. No caso específico da revenda, essa realidade de maior equilíbrio vem sendo constatada há mais tempo.
Dessa forma, não surpreende que, nesse próximo Dia Internacional da Mulher, a comemoração seja não a de um avanço puro e simples das representantes do gênero feminino sobre postos de condução e controle no setor, mas a do reconhecimento de sua capacidade em promover as mudanças necessárias a um novo planeta, de uma nova dinâmica nas relações entre o ser humano, suas necessidades energéticas mais prementes e a preservação do meio ambiente.
A voz da era pós-carbono já se faz ouvir em claro e bom som. E é uma voz feminina.