A vida de revendedor de combustíveis no Brasil nunca foi fácil, mas a impressão que fica é que não existe nada tão ruim que não possa piorar. O mês de fevereiro foi uma prova disso, em plena pandemia, em condições comerciais nada normais, os revendedores ainda tiveram que conviver com os significativos (e consecutivos) acréscimos nos preços providos pela Petrobras.
Ao acompanhar estes fatos, tivemos a certeza de que não vivemos tempos de decisões fáceis: a volatilidade do câmbio, as incertezas da pandemia, a troca de comando na Petrobras e até algum populismo tarifário nos comprovam isso. Mas no fim das contas sabe quem paga o pato de verdade? Isso mesmo, o revendedor.
Quem tem que receber clientes finais revoltados e ainda dar explicações sobre aquele determinado preço? Quem acaba por representar uma das menores margens da cadeia? E, por fim, quem menos responde por aquele acréscimo? Já sabemos a resposta.
Ciclo de caixa em cenários de crise
Mas esse cenário nos motivou a escrever sobre um tema específico e importante que pode ainda não ter sido notado por todos os revendedores e por isso o alerta: olho no caixa!
Sim, já falamos muitas vezes aqui sobre o ciclo de caixa e a importância de uma gestão eficiente do mesmo. Mas o cenário exige cautela. Assista também a palestra sobre Boas Práticas de Gestão do Caixa no Cenário Atual, com Prof. Guilherme Amado, em nosso evento #JuntosPelaRevenda.
Os constantes aumentos nos preços dos combustíveis foram ruins para os revendedores, não digo somente pela contração na demanda, mas especificamente pelo fato de o custo de aquisição dos combustíveis estar muito maior frente ao histórico comercial.
O que pode gerar um risco de caixa para os Postos?
- Restrições para repasse dos preços
- Vendas comprometidas
- Prazos curtíssimos para pagamento das distribuidoras
- Grande parte do fluxo de pagamento pelo cartão de crédito
Para aqueles que tinham suas reservas de caixa estabelecidas, estamos observando um enxugamento das mesmas, o custo da operação subiu e o prazo médio de recebimento não necessariamente reduziu. Inclusive, muitos revendedores já estão antecipando recebíveis do cartão, adicionando a este custo os juros dessa operação.
Este é um momento que exige bastante atenção pois não se trata apenas do bom uso ou gestão do caixa, e sim dos riscos existentes na sua recuperação. Estamos falando que as condições que permitiram a formação do caixa no passado estão passando por uma prova de fogo, não só pelo custo já citado, mas pelas incertezas associadas ao futuro.
Pense comigo, uma redução nos custos, ou mesmo nos impostos, pode promover a demanda, talvez, ao seu patamar anterior. Isso não deixa de ser uma boa perspectiva, mas seria uma situação típica para o revendedor brasileiro, em que ele voltaria ao seu custo e demandas anteriores, no entanto, sem caixa. É um movimento literalmente de limpar o caixa sem compromisso com qualquer retorno associado.
Poderíamos aqui citar vários exemplos que impactam o ciclo de caixa do negócio, mas queria aqui ilustrar o risco do cenário com os cartões de frotistas. Como os cartões pagam com um prazo que pode chegar até 40 dias, estamos falando não somente sobre caixa descoberto, ou seja, com os sucessivos aumentos dos preços dos combustíveis, estamos falando também até de uma possível venda com prejuízo. Troque o exemplo pelo crediário ou mesmo cartão de crédito e o resultado não será muito diferente.
Não preciso dizer o cenário para os estabelecimentos desprovidos de caixa para esse momento (tenha certeza que não são poucos!), o custo da operação vai subir ainda mais, será financiado com capital de terceiros e o efeito disso será uma redução da margem desse estabelecimento e sua consequente perda de competitividade, posições de risco para qualquer revendedor.
Não fique vendo a banda passar
Se realmente for necessário adiantar os recebíveis, dê preferência e estimule os meios de pagamento de baixo custo e de alta liquidez. Ainda se atente para o custo de crédito, entenda a capacidade de endividamento do seu negócio, enfim, mais do que nunca, seja um bom gestor.